O Cometa Interestelar 3I/ATLAS Intriga a Ciência com Mudanças de Cor e Aceleração Misteriosa

O cometa interestelar 3I/ATLAS surpreendeu astrônomos ao mudar de cor e acelerar após passar atrás do Sol. Entenda o que a NASA e cientistas brasileiros descobriram sobre esse visitante cósmico e o que ele pode revelar sobre outros sistemas estelares.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

11/4/20255 min ler

O espaço nunca deixa de surpreender. E, em 2025, um visitante inesperado reacendeu o fascínio da comunidade científica: o cometa interestelar 3I/ATLAS. Diferente de qualquer outro corpo celeste já observado em nosso Sistema Solar, ele apresentou comportamentos que desafiam explicações simples — mudanças drásticas de cor, aumento repentino de brilho e aceleração anômala após passar atrás do Sol.

Esses fenômenos intrigantes foram observados e confirmados tanto por astrônomos da NASA quanto por pesquisadores brasileiros, que têm acompanhado cada detalhe dessa passagem rara.

O que é o 3I/ATLAS e por que ele é tão especial?

Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo telescópio ATLAS, no Chile, o 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar já detectado atravessando o Sistema Solar — depois de ʻOumuamua (2017) e Borisov (2019).


A letra “I” em seu nome indica justamente sua origem interestelar, ou seja, ele veio de outro sistema estelar e está apenas de passagem.

Sua velocidade e trajetória hiperbólica confirmam isso: o cometa entrou em nosso sistema solar em altíssima velocidade e logo voltará ao espaço profundo, sem nunca mais retornar. Estima-se que o 3I/ATLAS tenha viajado milhões de anos através da galáxia antes de ser captado por nossos telescópios.

De acordo com o astrofísico Ricardo Moura, “cada cometa interestelar é como uma cápsula do tempo, carregando materiais e assinaturas químicas de outras regiões da Via Láctea. Estudar o 3I/ATLAS é, de certa forma, estudar um pedaço de outro sistema solar”.

O fenômeno: cor, brilho e velocidade fora do comum

Logo após sua descoberta, o 3I/ATLAS parecia um cometa comum — até que ele passou atrás do Sol, em setembro de 2025. Foi nesse momento que os telescópios registraram mudanças súbitas e inexplicáveis.

1. Um brilho repentino

Segundo dados da NASA, o cometa apresentou um aumento súbito de luminosidade ao emergir da conjunção solar. Esse brilho extra ocorreu devido à sublimação intensa de gases e partículas — quando o calor extremo do Sol fez o gelo do núcleo se transformar rapidamente em vapor, liberando uma grande quantidade de material refletivo.

“Foi como se o cometa tivesse acendido uma luz própria ao passar atrás do Sol”, descreve Peter Donahue, pesquisador da agência norte-americana. O aumento de brilho chegou a ser cinco vezes superior ao previsto.

2. A misteriosa mudança de cor

Outro comportamento que chamou atenção foi a mudança de coloração da coma, a nuvem gasosa ao redor do núcleo. Antes da passagem solar, o 3I/ATLAS exibia um tom avermelhado típico, mas depois disso, sua coloração ficou verde-esmeralda intensa.

Esse fenômeno, segundo estudos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), está ligado à emissão de luz por moléculas de carbono diatômico (C₂) quando excitadas pela radiação ultravioleta.
No entanto, há um problema: o 3I/ATLAS apresenta baixíssimos níveis de carbono diatômico, o que sugere outros compostos químicos desconhecidos. Isso levou os cientistas a especular que sua composição é muito diferente dos cometas formados no Sistema Solar.

A hipótese mais aceita é que o cometa contém altas proporções de dióxido de carbono (CO₂) e pouca água (H₂O), o que o tornaria um corpo “seco” e altamente volátil. De acordo com medições do Telescópio Espacial James Webb, a proporção de CO₂ chega a oito vezes mais do que a de água — algo jamais observado em outros cometas.

3. Uma aceleração inesperada

A passagem próxima ao Sol também provocou uma aceleração anômala na trajetória do 3I/ATLAS. Embora parte do aumento de velocidade possa ser explicada pela força gravitacional solar, os dados indicam que houve impulso adicional causado por jatos de gás liberados em direções irregulares.
Esse mesmo tipo de comportamento foi observado em 2017 com o ʻOumuamua, o que despertou teorias sobre uma possível origem artificial. No entanto, os especialistas enfatizam que tudo aponta para um processo natural, mas extremamente raro.

O que essas descobertas revelam sobre o espaço interestelar

Cada detalhe observado no 3I/ATLAS ajuda a desvendar mistérios sobre como os sistemas planetários se formam em outras regiões da galáxia.
Segundo o astrônomo Felipe Cardoso, “a composição incomum do 3I/ATLAS mostra que nem todos os cometas se formam nas mesmas condições químicas. Alguns podem surgir em regiões extremamente frias e escuras, longe da luz de suas estrelas”.

Essas informações são fundamentais para compreender:

  1. A diversidade química da galáxia: O fato de o 3I/ATLAS ter tanto CO₂ sugere que ele se formou em um ambiente muito mais gelado e denso do que o nosso.

  2. A evolução dos cometas: Ao comparar a atividade do 3I/ATLAS com cometas locais, os cientistas podem identificar padrões de envelhecimento e erosão em corpos gelados.

  3. Possíveis ingredientes da vida: Mesmo que o cometa pareça “seco”, ele pode carregar compostos orgânicos complexos — como metano e formaldeído — que ajudam a entender como moléculas precursoras da vida se espalham pelo cosmos.

Desmistificando teorias: o 3I/ATLAS não é uma nave alienígena

Assim como aconteceu com o ʻOumuamua, a internet foi inundada por teorias de conspiração. Alguns usuários especularam que o 3I/ATLAS seria uma nave espacial devido à aceleração e mudanças ópticas.
Mas as agências espaciais foram claras: não há qualquer evidência de origem artificial. As variações observadas são totalmente explicáveis por processos naturais de sublimação e ejeção de gases.

A própria NASA reforçou que os comportamentos do 3I/ATLAS, embora raros, “seguem padrões compatíveis com o de um cometa ativo em condições extremas”.

O futuro das observações

Nas próximas semanas, o cometa continuará sendo monitorado por telescópios terrestres e espaciais. O James Webb Space Telescope (JWST) e o Observatório ALMA, no Chile, estão acompanhando a evolução química da coma e o comportamento do núcleo.

Além disso, grupos de astronomia amadora também têm colaborado com imagens de alta resolução. O objetivo é entender como o cometa se comporta à medida que se afasta do Sol e se resfria novamente.

Há expectativa de que novas mudanças de cor possam ocorrer, dependendo dos gases liberados nas próximas fases.

O 3I/ATLAS é um verdadeiro presente cósmico. Em apenas alguns meses, ele nos mostrou o quanto ainda sabemos pouco sobre o espaço além do Sistema Solar.
Sua aceleração repentina, mudança de cor e composição química exótica nos lembram que o universo é repleto de surpresas — e que cada objeto interestelar é uma nova oportunidade para aprender.

Como destacou a pesquisadora Dra. Helena Duarte, da UFRJ:

“Esses cometas são como mensagens de outros mundos. Cada partícula de poeira que eles carregam pode contar uma história sobre a origem da vida e da matéria na galáxia.”

A próxima vez que olhar para o céu, lembre-se: pode haver viajantes distantes cruzando silenciosamente nossa vizinhança cósmica — e talvez o 3I/ATLAS seja apenas o início de muitas descobertas por vir.

Foto: Reprodução própria

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